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Revolução no Tratamento da Obesidade? 'Bimagrumab vs. Estudo BELIEVE'

  • Foto do escritor: Blog Prof. Wellington Lunz
    Blog Prof. Wellington Lunz
  • 25 de jun.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 3 de jul.

estudo believe e bimagrumabe

Prof. Dr. Wellington Lunz - Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Exatamente nesse mês de junho de 2025, no congresso da American Diabetes Association (ADA), foram apresentados resultados impressionantes do estudo BELIEVE. Sugerem uma revolução no tratamento da obesidade.

Não estive no congresso, mas há muita gente falando sobre o que o estudo BELIEVE apresentou. Vou explicar:


O Bimagrumab Como Promessa Inicial

Alguns meses atrás, publiquei um post detalhado aqui no meu Blog sobre o medicamento bimagrumab (ou bimagrumabe, como estão chamando), disponível neste link.

Na ocasião, destaquei os resultados do estudo publicado por Heymsfield et. al, em 2021, na prestigiada revista JAMA.

Nesse estudo, de fase clínica 2, pacientes com obesidade e diabetes tipo 2 que receberam o medicamento bimagrumab durante 48 semanas apresentaram redução muito significativa de gordura corporal (−20,5%) e, ao mesmo tempo, aumento de massa magra (+3,6%), além de melhora no controle glicêmico.

Esses resultados (relativos) foram muito impressionante, principalmente porque, ao contrário de outros medicamentos e intervenções (ex: cirurgia bariátrica) que causam grande perda de massa muscular, o bimagrumab não somente reduziu gordura corporal, mas também aumentou a massa muscular.

No entanto, a perda de peso corporal total foi de ~6,5%, valor que, somado a outras exigências da FDA, não foi considerado suficientemente expressivo para aprovação pela FDA (agência reguladora dos Estados Unidos).

Na época, os autores reclamaram dos critérios da FDA, porque a agência considera o peso corporal, e não somente gordura corporal. De fato, se um medicamento reduz gordura e aumenta massa muscular ao mesmo tempo, o peso pode não mudar tanto.


O Estudo BELIEVE: Por que Ele é Mais Animador?

Agora, o estudo BELIEVE, que testou o bimagrumab somado a outra droga (falarei abaixo), foi apresentado no congresso da ADA, e trouxe resultados mais impressionantes: a perda de peso foi muito maior (~22%), além de ter conseguido preservar a massa muscular.

O impacto clínico recoloca o bimagrumab no centro das atenções. Veja as principais diferenças entre o estudo de Heymsfield et al. (2001) e o Estudo BELIEVE:

  • O estudo de Heymsfield et al. (2001) usou somente Bimagrumab (10 mg/kg). Já o BELIEVE comparou diferentes estratégias, incluindo a combinação do 'Bimagrumab + Semaglutida'. A Semaglutida é um agonista GLP‑1 que atua principalmente na supressão do apetite. E o Bimagrumab é um anticorpo do receptor activina II (expliquei no meu post).

  • A duração do estudo de Heymsfield et al. (2001) foi de 48 semanas, e no BELIEVE parece que foi de 72 semanas.

  • A amostra do estudo BELIEVE foi de ~500 pessoas, enquanto no estudo de Heymsfield et al. (2001) foi de ~75 pessoas (e só 58 concluíram). 


    E os RESULTADOS:

  • Redução de 6,5% do peso corporal no estudo de Heymsfield et al. (2001) e 22% de redução no estudo BELIEVE.

  • No estudo de Heymsfield et al. (2001) houve ganho de massa muscular. No estudo BELIEVE, a perda de massa muscular foi muito pequena, pois 93% da perda de peso foi de gordura. Vale muito destacar que terapias com outras drogas ou via cirurgia bariátrica costumam gerar perda de ‘~1kg de massa muscular para cada ~3 kg de massa gorda’. Ou seja, ~25% da perda de peso é muscular.

  • No estudo de Heymsfield et al. (2001) houve redução média de ~7,5 kg de gordura, sendo que cerca de pouco mais de 30% disso foi gordura visceral. E reduziu 9 cm da cintura. O estudo BELIEVE, considerando a combinação das drogas, reduziu ~19 kg de gordura (isso varia dependendo do peso inicial). E parece que mais de 50% disso foi de gordura visceral. Não encontrei informação sobre perimetria da cintura, mas certamente foi grande.

  • O estudo BELIEVE gerou perda de peso corporal suficiente para ser aprovada pela FDA, de modo que muito provavelmente não demorará para estar no mercado. Não só isso: essa perda de peso não é tão diferente da perda de peso induzida por bariátrica, a qual é uma cirurgia de grande porte.

  • O estudo de Heymsfield et al. (2001) era fase 2a, e o estudo BELIEVE já está na fase 2b. Parece que, atualmente, a aprovação ocorre na fase 3, já que a fase 4 é pós-comercialização.

 nutricionistas com experiência em diferentes especialidades
O Prof Wellington Lunz apoia e recomenda o Instituto Afficere. Agende sua consulta nutricional.

Nem Tudo São Flores

Qual será o preço desse medicamento? Ninguém sabe ainda dizer, mas, considerando o tamanho do investimento da farmacêutica responsável, isso custará muito caro. E mais: é um tratamento de longo prazo. Portanto, mesmo se não produzir efeitos adversos importantes, haja grana para sustentar a compra pelo resto da vida (exceto se o/a paciente passar por uma reeducação alimentar com nutricionista).


Será o Fim dos Profissionais de Educação Física e Nutrição?

Claro que não! Explico:

Primeiro, o exercício físico nunca foi a melhor estratégia para reduzir gordura corporal. Nas terapias para reduzir peso gordo, o exercício físico sempre foi mais importante para preservar a massa muscular.

Segundo, e mais importante: para eu narrar a quantidade de benefícios para a saúde induzidos pelo exercício físico exigiria um post só para isso. Não há remédio que substitua todos os efeitos do exercício físico. O inverso, sim, é verdadeiro.

Em relação aos profissionais da Nutrição, a lógica é similar. A Nutrição é uma área de promoção de saúde e qualidade de vida. É muito mais que reduzir gordura corporal.

Possui muitas subáreas essenciais, como a nutrição clínica (ex: oncológica, renal, gastrointestinal, endócrina, etc.), hospitalar, materno-infantil, geriátrica e menopausa, saúde coletiva, esportiva, industrial, etc.

Além disso, tenho certeza de que nenhum profissional da área de Nutrição se alegra em prescrever dietas restritivas. A felicidade de nutricionistas está em prescrever uma alimentação nutritiva (saudável), conciliada à cultura local, à afetividade familiar e aos prazeres gastronômicos (e isso nenhum remédio substitui).

Aliás, enquanto escrevo esse post, estou fazendo o pão que minha filha ama. Ah, convenhamos, nada para minha filha substitui o pão que o pai faz para ela; nada, para mim, substitui a alegria de ver minha filha comendo o pão que fiz. Não há remédio que substitua a magia disso.

Portanto, nutricionistas que viabilizam momentos como estes, estão mais próximos do metafísico que do físico.

Somado a isso, quem não se propuser a uma educação nutricional para melhorar seus hábitos alimentares, se tornará refém da indústria farmacêutica. E aí, haja dinheiro e haja resistência fisiológica para os efeitos colaterais da droga. 

Aproveitando, se deseja ou precisa de acompanhamento nutricional para preservar ou melhorar sua saúde e qualidade de vida, clique no banner abaixo, que você será direcionado para duas nutricionistas de altíssimo nível (MSc e PhD).

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Então é isso, amiga e amigo... Obrigado por ler até aqui. E se você gostou, compartilhe com colegas e amigos/as ou em suas redes sociais. E quem quiser receber as novas postagens deste Blog, basta clicar aqui para se inscrever na Newsletter.

Lembrando que a maioria de minhas postagens são sobre treinamento físico, em especial direcionado para hipertrofia muscular. Há quase uma centena de posts. Caso queira citar meu post, segue:

Lunz, W. Revolução no Tratamento da Obesidade? 'Bimagrumab vs. Estudo BELIEVE'. Ano: 2025. Link: https://www.wellingtonlunz.com.br/post/medicamento-para-o-tratamento-da-obesidade [Acessado em:____].


Segue agora um resumo de questões e respostas associadas a esse post:


O que é o estudo BELIEVE?

Um ensaio clínico de fase 2b, randomizado e duplo-cego, apresentado no congresso ADA em junho de 2025. Avaliou o uso de bimagrumab, com ou sem semaglutida, em ~500 adultos com IMC ≥30 ou ≥27 com comorbidades, ao longo de 72 semanas.

Quais os principais resultados do estudo BELIEVE?

A combinação bimagrumab+semaglutida reduziu o peso corporal em (média) 22,1%, com 92,8% da perda vindo de gordura, preservando, portanto, quase completamente a massa magra.

O que é o bimagrumab?

É um anticorpo monoclonal de primeira classe que bloqueia receptores activina II, estimulando o aumento de massa muscular e redução de gordura corporal ao mesmo tempo.

O que é a semaglutida?

Um agonista do receptor GLP‑1, usado para tratamento da obesidade e diabetes, que age, principalmente, reduzindo o apetite.

O bimagrumab já está disponível nas farmácias?

Não. Até agora, foi testado em fase clínica 2 e ainda não recebeu aprovação da FDA. O estudo BELIEVE mostrou resultados robustos e poderá iniciar a fase 3 em breve, mas o medicamento ainda não está nas farmácias.



Professor Wellington Lunz

Autor: Wellington Lunz é o proprietário desse Blog e do site www.wellingtonlunz.com.br. Também tem um canal no YouTube: (youtube.com/@prof.wellingtonlunz) onde transmite conhecimentos baseados em evidência de diferentes áres (ex: hipertrofia muscular, treinamento de força, musculação, fisiologia do exercício, flexibilidade). É bacharel e licenciado em Educação Física, Mestre em Ciência da Nutrição e Doutor em Ciências Fisiológicas. Atualmente é Professor Associado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Contato pelo site, e-mail: welunz@gmail.com.br 


2 Comments

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Divo Zaniqueli
Divo Zaniqueli
Jun 27
Rated 5 out of 5 stars.

Sempre uma análise meticulosa e bem fundamentada. Já compartilhei com o(a)s colegas da UBS.

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Blog Prof. Wellington Lunz
Blog Prof. Wellington Lunz
Jun 30
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Obrigado novamente, meu amigo! 👊

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